Populações de cidades globais, como Nova York, Paris e Xangai, já vinham diminuindo antes da pandemia, em boa medida como consequência dos preços exorbitantes dos aluguéis. Manhattan tem hoje a maior proporção de locatários do mundo, representando dois terços da população (5,4 milhões de pessoas).
Tem também o mais alto valor de metro quadrado residencial e também comercial de todo o continente. Quando a quarentena foi decretada, muitos desses locatários iniciaram um movimento para não pagar aluguel. Mas, até aqui, a adesão ficou bem abaixo do esperado, com mais negociações envolvendo prazos e descontos do que simples calote, reconhecimento de que parte importante da economia local está baseada nesses acordos.
Quem não pode pagar tende a sair, ainda que temporariamente. Pandemias do início do século 20 causaram efeito semelhante, reduzindo os 2,5 milhões de habitantes de Nova York em 1920 para 1,5 milhão em 1970. A boa notícia é que esse movimento acaba por reequilibrar os preços, que aos poucos se tornam convidativos de novo.
Em um segundo momento, essa acomodação irá reconduzir artistas e músicos à cidade, atraídos por custos mais baixos de moradia. Para o urbanista Richard Florida, a crise traz uma oportunidade para que as cidades mais caras do mundo possam assim recomeçar e reorganizar suas cenas criativas